top of page
37.PNG

 

 

 

Em que direção o mundo está seguindo? Como os consumidores comprarão roupas nos
próximos anos? Quanto tempo uma peça levará entre ser idealizada, produzida e chegar ao guarda-roupa do cliente? Em tempos de tantas mudanças, nem sempre é possível identificar imediatamente respostas precisas para tais questionamentos; entretanto, uma observação acurada do cenário atual pode trazer indícios valiosos. As empresas de sucesso são as visionárias. Elas investigam o presente para descortinar o futuro e enxergar oportunidades à frente de seu tempo, criando tendências e idéias inovadoras que trazem as melhores soluções ao consumidor. Este artigo propõe um breve mergulho no universo encantador da produção de moda buscando insights sobre seus futuros horizontes.


Historicamente, o mundo vem em lenta evolução. Se considerarmos os parâmetros da
sociedade ocidental, observamos que, em aproximadamente quase dois mil anos anos não houve um grau muito significativo de progresso tecnológico. A grandes transformações no âmbito da tecnologia começaram por volta do final da segunda guerra mundial, com a transição da era industrial para a era da informação. Devido ao surgimento dos computadores e da internet, os padrões de comportamento da sociedade se alteraram visivelmente.


Conectividade e velocidade se tornaram palavras-chave no mundo atual. O ser humano
passou a ter muito mais acesso a informação e de forma bem mais rápida. Uma vez que a
informação chega com mais celeridade, as pessoas inconscientemente se adequam aos
efeitos psicológicos desse novo ritmo, entrando num círculo vicioso de ansiedade. Passam a querer tudo com urgência.


O quesito tempo sempre foi marcante na história da moda. No passado, as roupas eram
feitas à mão, existindo uma demora considerável para serem confeccionadas. Após a
segunda guerra mundial ocorreu uma redução no tempo de confecção por conta da eclosão da produção industrial e do prêt-à-porter. Posteriormente, houve uma redução ainda maior no tempo de produção das peças com o fenômeno do fast fashion. Hoje existem cadeias de lojas que chegam a desenhar, produzir e colocar à venda uma peça em duas semanas. Isso retrata o perfil exigente do consumidor atual.


As marcas seguem a demanda dos consumidores. Nos dias de hoje, os clientes veem uma
peça nos desfiles das grifes e querem usar imediatamente. Quem pode pagar frequenta os desfiles e já compra a peça na hora, nos moldes do see now, buy now. Quem não pode pagar aguarda uma peça semelhante, "inspirada" nos desfiles, chegar nas fast fashion.


Essa característica de ansiedade do consumidor contemporâneo está levando as empresas que produzem moda a buscarem alternativas para materializar uma ideia cada vez mais rápido. O futuro é a varinha mágica. É o consumidor imaginar uma roupa com estampa, tamanho e modelo específicos e ela aparecer instantaneamente seu no guarda-roupa. É a produção de uma roupa cada vez mais personalizada feita com a ajuda de diversos componentes tecnológicos para acelerar o processo produtivo. Mas como isso será operacionalizado?


Prenunciando essa necessidade do mercado, a gigante norte-americana do varejo, Amazon, patenteou o projeto de uma fábrica automatizada de roupas sob demanda. É um sistema elaborado para produzir roupas de acordo com o gosto do cliente assim que o cliente faz a compra no site. De acordo com o projeto, será um sistema muito ágil e que opera sem a necessidade de assistência humana. Outro pedido de patente da Amazon consiste em uma fábrica móvel que funciona em um caminhão com uma impressora 3D. Essas patentes são criadas com base no conceito just in time, que visa a manufatura, armazenagem e transporte de produtos sem acúmulos ou desperdício de matéria-prima, tempo, espaço, etc.


Os avanços da produção on demand para o mundo da moda não param por aí. Além de
fábricas sem funcionários e caminhões imprimindo em 3D, existe também a opção da peça ser confeccionada na própria loja. Segundo o diretor do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil - SENAI CETIQT, será possível o cliente chegar fisicamente à loja, escolher numa tela as opções de modelos, tamanhos e estampas, e, em minutos, receber a peça pronta, advinda de uma linha de produção composta exclusivamente por máquinas e apenas uma costureira.


Outra possível forma de confecção do produto será na casa do cliente. O cliente compra um arquivo digital e imprime a peça em qualquer lugar do mundo numa impressora 3D. Ou 4D.


A impressora 3D é uma forma de tecnologia de impressão onde um modelo tridimensional é criado por depósito de sucessivas camadas de material, geralmente plástico ou metal. Já a impressão 4D é uma espécie de aprimoramento da 3D. É uma tecnologia que dá movimento aos objetos criados. Nela são usados materiais dinâmicos que, a partir de uma programação prévia, continuam a evoluir em resposta ao ambiente. Isso significa que é possível modificar o formato do objeto que foi impresso inicialmente, basta a simples exposição a algum fator externo como calor, por exemplo. Esse tipo de tecnologia é muito útil porque, dentre outras vantagens, permite que o produto seja impresso em formato reduzido, por ser mais fácil de ser armazenado e transportado e, posteriormente, ao receber um estímulo específico, passe então a assumir a forma para a qual foi originalmente projetado.


A empresa norte-americana Nervous System vende em seu website produtos impressos em 3D como bijuterias, luminárias e objetos de decoração. É possível o próprio cliente desenhar e customizar online o formato de vários produtos. Possui também uma linha em 4D denominada Kinematics, cujos produtos são impressos em formato reduzido e só depois adquirem a forma escolhida. Tal linha inclui bijuterias, uma gravata e também um vestido. As peças de vestuário são flexíveis, se amoldam ao corpo e são customizáveis. A tendência é o cliente mandar cada vez mais na linha de produção.


Por conta de todas essas mudanças, muitas das profissões ligadas ao mundo da moda se
tornarão obsoletas, e, com isso, a mão de obra terá que se adaptar às novas profissões do
futuro. Existirá muita demanda nas áreas de tecnologia da informação e automação. Nesse novo sistema industrial que está surgindo, denominado indústria 4.0, as máquinas farão a maior parte do trabalho. O ser humano será necessário apenas para fazer com que todos os equipamentos trabalhem em harmonia, gerando processos industriais mais eficientes, produtivos e sustentáveis. Um exemplo de uma nova profissão, antes inexistente, que passará a ser requisitada pelo mercado é o designer de impressão 3D e 4D para criar os modelos que serão impressos pelas lojas ou pelos próprios consumidores em casa.


Além do surgimento de novas alternativas de produção, outro efeito extremamente
benéfico da conectividade foi que o consumidor adquiriu mais consciência dos efeitos
nocivos do consumo ao planeta. Consciência ambiental e preocupação com
desenvolvimento sustentável passam a ser, cada vez mais, critérios considerados pelo
consumidores ao decidir quais marcas comprar.


Desenvolvimento sustentável é o capaz de suprir as demandas da geração atual sem
comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. É o
desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. E, uma vez que esses conceitos começam a ser valorizados pelos consumidores, as marcas passam a fazer esforços nesse sentido, buscando reduzir os danos ao planeta. Existem inúmeras startups e também grandes marcas desenvolvendo projetos tecnológicos e sustentáveis. Os novos sistemas produtivos da indústria 4.0 reduzem estoques e o desperdício. O consumidor irá materializar apenas o que precisa e quando precisa.


Um exemplo claro dos avanços tecnológicos aliados à preocupação com a sustentabilidade é o da empresa norte-americana Modern Meadow, cuja máxima é create, don't destroy. Ela é pioneira no desenvolvimento de materiais biologicamente avançados e lançou o primeiro couro biofabricado do mundo. Produzido por um time híbrido de profissionais com experiência em design de moda e biociência, este couro é feito a partir de células de colágeno, ou seja, material proveniente da natureza mas não de animais, sendo, portanto, um couro livre de crueldade.


O couro é líquido e, por conseguinte, pode adquirir qualquer forma desejada. Além disso, também é passível de ser produzido em qualquer densidade e textura, podendo assim ser aplicado em qualquer tipo de peça. Não é a toa que já tenha despertado o interesse das maiores marcas de luxo mundiais. Elas sabem que os seus consumidores são exigentes e ávidos por inovações. E não foram só as marcas de luxo que reconheceram o importante trabalho da Modern Meadow, quem for dar uma voltinha no MoMA The Museum of Modern Art de Nova York terá a oportunidade de ver uma peça feita com esse couro biofabricado exposta por lá.


Outro exemplo da relevância do tema da sustentabilidade é que muitas grifes internacionais, pressionadas pelos apelos dos consumidores, aboliram de vez o uso de pele verdadeira de animais em suas coleções. Dentre elas podemos citar: Chanel, Gucci, Versace, Burberry, Michael Kors, Giorgio Armani, Jimmy Choo, Stella McCartney, Vivienne Westwood, DKNY, Ralph Lauren, John Galliano, Hugo Boss, Tommy Hilfiger, Calvin Klein, H&M, Zara e Topshop. Hoje em dia já existem tantas opções de pele sintética esteticamente equivalentes às naturais que não se justifica de forma alguma a crueldade com os animais.


Antes essas considerações, o futuro que pode ser vislumbrado até o momento segue na
direção da transição da fast fashion para a instant fashion, imediata e personalizada, com
muita consciência ambiental e sustentabilidade porque a sociedade já entendeu que, ou elacuida do planeta, ou ele deixará de existir. Cada vez mais, hoje em dia está na moda sersustentável. E chique é ser consciente.


Fabrícia Helena S. Ferreira
Advogada especialista em Direito Empresarial pela PUC/SP
São Paulo, Brasil
fabricia.helena@gmail.com

 


 

bottom of page